Desejo de Receber
A Cabalá explica que o Criador é benevolente e que Ele deseja nos dar um prazer infinito e contínuo. Como o Criador é benevolente, Ele nos criou com um desejo infinito e contínuo de receber o prazer que Ele deseja proporcionar. Na Cabalá, isso é chamado de “a vontade de receber deleite e prazer” ou, em resumo, “a vontade de receber”.
Basicamente, a intenção é o “objetivo” pelo qual agimos. Se quisermos nos beneficiar, então tudo o que vemos somos nós mesmos e tudo o que criamos. Mas se quisermos beneficiar o Criador, então tudo o que veremos será o mundo do Criador e tudo o que Ele criou.
Em sua “Introdução ao Livro do Zohar”, Baal HaSulam explica a necessidade do Criador de criar o desejo de receber (criaturas):
Visto que o Pensamento da Criação deveria conceder às Suas criaturas, Ele teve que criar nas almas uma grande medida de desejo de receber aquilo que Ele havia pensado em dar-lhes. …Assim, o próprio Pensamento da Criação dita necessariamente a criação de uma vontade excessiva de receber nas almas, para se adequar ao imenso prazer que Sua Omnipotência pensou conceder às almas.
Em outras palavras, temos a capacidade, o potencial e até mesmo o desejo inconsciente de nos conectarmos com o Criador e, ao recebermos Seus prazeres, aumentarmos nossa alegria de viver.
Egoísta até o núcleo
Mas, na prática, há consequências para um desejo tão imenso de receber. O próprio Baal HaSulam descreve a complexidade da condição humana em seu ensaio “Paz no Mundo”:
Cada indivíduo se sente no mundo do Criador, como governante único, que todos os outros foram criados apenas para facilitar e melhorar sua vida, sem que ele sinta qualquer obrigação de dar algo em troca.
Em palavras simples, somos totalmente egoístas. No entanto, quando corrigido, este egoísmo extremo torna-se o mais alto nível de altruísmo e benevolência.
O desejo mais egoísta: ser altruísta
Mas nascer egoísta não significa que permaneceremos egoístas para sempre. Lembre-se de que o Criador é benevolente; Ele não tem nada em mente a não ser dar. Como resultado, Ele cria criaturas que desejam apenas receber. Estas criaturas começam a receber o que Ele dá, mais, e mais, e mais. Infinitamente.
À medida que o desejo de receber evolui nas criaturas, ocorre uma transformação quase mágica. Eles não querem apenas o que o Criador dá, mas também querem ser realmente Criadores. Pense em como toda criança deseja ser como seus pais. Pense também em como a própria base do aprendizado é o desejo do pequeno de crescer. Os Cabalistas dizem que a vontade da criança de ser adulta decorre do desejo da criatura de ser como o seu Criador.
Centelhas Espirituais
Existe um remédio maravilhoso e inestimável para aqueles que se envolvem na sabedoria da Cabalá…. Eles despertam sobre si mesmos as Luzes que cercam suas almas…. A iluminação recebida repetidas vezes durante o estudo recorre a uma graça do Alto, transmitindo abundância de santidade e pureza, que aproxima a pessoa da perfeição.
—Baal HaSulam, “Introdução ao Estudo das Dez Sefirot”
Se seus pais fossem seus modelos, você estudaria suas ações e faria o possível para imitá-los e se tornar um adulto também. Da mesma forma, se o Criador for o seu modelo, você estudaria o Criador para se tornar como Ele. Se o Criador que você estuda tem tudo a ver com doação, com benevolência, você pode ver como o egoísmo extremo de querer tornar-se “semelhante ao Criador” pode ser transformado em altruísmo (que exploraremos mais detalhadamente nos próximos capítulos), porque é isso que Ele é. Na Cabalá, a capacidade de ser como o Criador é chamada de “alcançar o atributo de doação”.
Outra forma de pensar sobre esta ideia de altruísmo é lembrar que a Cabalá nos lembra que não estamos separados, mas fazemos parte do nosso mundo. Altruísmo é ser um com os outros, unir-se a eles. Nesta perspectiva, o altruísmo é também uma forma inteligente de zelar pelo nosso próprio bem-estar.
A implicação, embora possa parecer um oxímoro, é que o desejo mais egoísta de cada pessoa é ser como o Criador: um altruísta total.
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